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sábado, 8 de janeiro de 2011

Sentença de morte à cultura e à arte

Hoje assistindo a um telejornal, uma notícia me comeveu... Não foram os acidentes nas estradas, nem os estragos causados pelas chuvas. Era apenas mais uma das sentenças de morte que a minha geração tem dado a cada dia à arte e à cultura. A notícia em questão não seria para muitos uma tragédia, ou motivo de comoção. Se tratava do fechamento de um cinema multi-plex e de uma loja de CD´s. Nem mesmo saberia explicar ao certo porque a matéria mexeu comigo. Nunca visitei nenhum dos pontos e nem sequer estive nas cidades onde estão localizados...
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O que talvez me tenha tocado, seja apenas a idéia de que simbolicamente os acontecimentos nos tornam um pouco mais pobres culturalmente. Já tem um tempo que a troca de arquivos pela internet tem abatido a indústria fonográfica no tocante às vendas de CD´s, isto por si só é um fato positivo, uma vez que mostra a subversão de uma cadeia de lucro por um sistema anárquico de compartilhamento. Porém a facilidade que os programas de downloads e uploads dão ao usuário de aquirir e conhecer novos artistas e bandas, colocam à sua disposição uma quantidade muito grande informação que ele não consegue processar. Nos tornamos com isso consumidores ávidos por instantaneidade, velocidade e por tudo que o efêmero representa...
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Se torna desta forma, cada vez mais distante a época em que determinado disco marcava uma determinada fase de nossas vidas, e a nossa relação com a música como expressão de arte de dava de uma forma bem diferente. Aconteceu diversas vezes comigo, em princípios de 2001, eu conheci a banda que mudaria os rumos de minha adolescência e consequentemente de minha vida, era o Ramones, o CD em questão, uma coletânea com 26 faixas, rodou praticamente todos os dias em meu CD player até que eu conseguisse outros discos da banda
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Ao contrário do que aconteceu com a música, o cinema, não esteve tão presente em minha infância e adolescência; fui me tornar um cinéfilo um pouco mais tarde, não que eu não assistisse filmes, mas posso contar nos dedos quantas vezes assisti uma película projetada numa telona até os meus 15 anos. Já era um pouco tarde que nasceu em mim uma verdadeira paixão, o cinema de minha cidade (Ubá) teria não muito tempo pela frente. Seu fechamento foi na minha opinião, uma das maiores perdas desta cidade, ainda provinciana em termos de cultura, nos últimos tempos.
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Tal como tem acontecido com a indústria fonográfica, o cinema tem sido afetado pelas novas tecnologias de comunicação, as salas estão cada vez mais vazias, com raras exceções, como o caso de Tropa de Elite 2 - o inimigo agora é outro, de José Padilha, que vem batendo recordes de bilheteria e exibição. Em algumas situações bem antes de estrear nas salas de cinema um filme já pode ser baixado na net, tal como aconteceu com o primeiro longa de seuqência Tropa de Elite.
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Se por um lado vejo o compartilhamento de arquivos pela internet como algo extremamente positivo no que se refere à democratização de acesso à arte e ao desmantelamento das teias da industria cultural, por outro penso que a facilidade no acesso tem prejudicado a relação indivíduo/arte/artista. Para muitos o cinema perde importância e é trocado pela sala de casa ou pelo quarto solitário do computador, lugares onde a magia da sétima arte definitivamente não se reproduz da mesma forma.
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Voltando à noticia do telejornal, talvez agora eu compreenda que talvez tenha sido uma espécie de medo, aquilo que senti diante da televisão. Minha geração não está se preocupando em preservar aqueles que talvez sejam alguns dos bens históricos das gerações anteriores, repudiamos tudo o que tem profundidade estética e tudo que possui significado além do aparente. E cada vez menos conseguimos compreender, que mais vale vale como vivência 2 horas em um cinema que um mês em uma academia, e que música pode ser, como arte, muito mais que entretenimento.
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Sinto por não ter feito parte da geração viu Felline, Godard, Hichcock, Bergman e otros clássicos no cinema... talvez a geração posterior a minha não venha a conhecer nem sequer Hollywood pelas telonas, e isto é triste, muito triste...


- Abaixo assinado on-line pelo não fechamento do Cinema Belas Artes

- Matéria sobre o fechamento da loja de CD`s Modern Sound
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