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quinta-feira, 19 de maio de 2011

Rio

Rio - 2011. Dirigido por Carlos Saldanha. Roteiro de Don Rhymer. Direção de Fotografia de Renato Falcão. Música de John Powell. Produzido por Bruce Anderson & John C. Donkin. Blue Sky Studios – Twentieth Century Fox Animation / EUA.

 

O jornalista e escritor Paulo Roberto Pires fez uma bela análise do filme Rio (2011), comparando-o com Alô, Amigos (1942) e Você Já Foi à Bahia? (1945), os dois filmes da Disney que tiveram Zé Carioca como personagem principal. No artigo “Do Papagaio à Arara”, publicado na edição de número 165 da revista Bravo, ele observa os aspectos dos filmes que exemplificam a ideia que Hollywood produziu do Brasil em cada uma das ocasiões. Ele chega à conclusão de que resguardadas algumas diferenças, ambos os filmes acabam se sustentando sobre os mesmos estereótipos, pelos quais o país se tornou tão conhecido no exterior. O fato de que Rio foi dirigido por um brasileiro, Carlos Saldanha (realizador de A Era do Gelo 1 e 2), com certeza foi determinante para que a animação se tornasse uma verdadeira homenagem à “cidade maravilhosa”, mas isso não a impediu de cair no lugar comum de retratar mais uma vez o Brasil como o país do carnaval, do futebol, do samba e da malandragem.

Tal como nos filmes do Zé Carioca, o fetichismo de Rio se baseia na ideia do Brasil exótico e “selvagem”, o que no presente caso não é de todo um fato negativo. Vale lembrar que antes de qualquer outra coisa, este é um filme infantil e como sabemos o gênero esteve e sempre estará sujeito aos clichês e à estereotipação. Porém é na sua real proposta, a de proporcionar um bom entretenimento, que o filme sai ganhando. A história é bem simples, mas ainda assim a trama é gostosa de se assistir. Em momento nenhum a beleza da parte técnica do filme ofusca o foco do roteiro, que está nas aventuras vividas pelos personagens. O filme consegue arrancar boas risadas e consegue empolgar, mesmo com um final tão previsível. Não tive a oportunidade de assistir Rio em 3D, mas creio que a deliciosa experiência que o filme pode nos proporcionar deve ser ampliada em grandes proporções neste formato.


 

Na história Blue, uma ararinha azul, é tirado de seu habitat natural por traficantes de animais antes mesmo de aprender a voar e é levado para os Estados Unidos. Depois de conseguir escapar acidentalmente dos bandidos Blue é encontrado por Linda, uma moça simpática que lhe dá todo o cuidado e carinho e o cria como se fosse um membro da família. A peripécia na vida dos dois acontece quando eles descobrem que Blue é o último macho da espécie. Um ornitólogo (especialista em aves) brasileiro, chamado Túlio, convence Linda a trazer Blue de volta para o Brasil para ele acasalar com Jade, a última fêmea de sua linhagem, que vive em um zoológico no Rio de Janeiro. Porém ao chegar no Brasil, Blue é é mais uma vez sequestrado por traficantes, desta vez junto com Jade. Eles conseguem fugir, mas para se manter a salvo Blue terá que conquistar a confiança da nova companheira e ainda aprender a voar, o que parece ser o mais difícil.

 

Um aspecto que distancia Rio dos dois filmes de Zé Carioca é a influência que as atuais animações têm sofrido do ideal do “politicamente correto”. Nos filmes da Disney, lançados há quase 60 anos, os personagens principais são os pivôs da malandragem e verdadeiros maus exemplos de comportamento. Em Alô Amigos, Zé Carioca fuma charuto o tempo todo e numas das cenas Donald toma um baita porre de cachaça em um boteco. Em Rio a consciência social e ambiental guia todo o desenrolar da trama, os bandidos são traficantes de animais (que mais parecem traficantes de drogas) e a cidade chega a parecer um reserva natural que precisa ser protegida. Mesmo de forma velada o roteiro toca em temas contundentes como a favelização, a marginalidade e o trabalho infantil, mas o que pode parecer profundidade é na verdade apenas clichês, e o filme realmente não consegue escapar deles.

 

Não preste muita atenção nos clichês, para assim aproveitar ao máximo o ótimo entretenimento que o filme pode proporcionar, deixe um pouquinho de lado o censo crítico e tente ver a animação com o olhar de uma criança deslumbrada, não pense no quão surreal pode ser um bando de macacos roubando turistas no centro da cidade, ou um jogo da seleção contra a argentina em pleno carnaval, preste atenção apenas nas belas imagens, na trilha sonora que tem alguns bons momentos e nas situações cômicas que o filme explora muito bem. Mesmo sem intenção, ele ainda consegue nos lembrar que também costumamos cultivar ideias errôneas sobre a cultura de outros países e até mesmo de outras regiões do Brasil. Se o filme peca não é por maldade e no fundo ele acaba sendo mesmo uma boa homenagem à "cidade maravilhosa". Rio não é um filme estupendo e não chega nem perto das melhores animações que Hollywood produziu nos últimos anos, mas vale a pena o ingresso.Vá voando para o cinema e assista!


Assistam ao trailer de Rio no You Tube, clique AQUI !
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